Na família de
Cassel Sharpe, honestidade não é a virtude mais valorizada. Afinal, o
adolescente de 17 anos nasceu em um clã de golpistas de primeiro time,
acostumados a trapacear desde a mais tenra infância. Mas o que difere os
Sharpe de outros vigaristas é que eles são mestres de magia, capazes de
operar maldições apenas com o toque dos dedos. Apesar de ser o único
sem poderes entre os irmãos, Cassel está longe de ser um santo. Aos 14
anos, ele matou uma jovem, Lila, sua melhor amiga e por quem era
apaixonado, carregando desde então a culpa do crime e a vergonha da
lembrança mais forte que tem daquele fatídico dia: a euforia de escapar
impune. Consciente de sua atração pelos golpes e esquemas escusos,
Cassel tenta conviver com a própria natureza da melhor forma possível,
até o dia em que um sonho e uma crise de sonambulismo desencadeiam uma
série de eventos que o levarão a uma jornada pela verdade com
consequências imprevisíveis em Gata Branca, primeiro livro da trilogia Mestres da Maldição, de Holly Black, que a Rocco publica no Brasil.
No universo criado pela autora, todos vestem luvas,
cujo uso é obrigatório para que ninguém seja enfeitiçado. Essa norma,
como muitas outras, surgiu com a Proscrição de 1929, que enviou os
mestres de magia nos Estados Unidos para campos de trabalho forçados.
Foi lá que seis grandes famílias de mestres conquistaram o poder ao
longo da Costa Leste americana nos anos 1930 –Nonomura, Goldbloom,
Volpe, Rice, Brennan e Zacharov – e são elas que controlam desde a venda
de amuletos baratos até agressões e assassinatos. Só 0,01% da população
é mestre, e 60% dos que têm poderes são mestres da sorte. Os mestres da
morte, como Desi, o avô de Cassel, que tem cotocos enegrecidos no lugar
de alguns dedos, resultado dos rebotes de suas maldições, são menos
comuns, assim como os mestres da emoção, caso da mãe do rapaz, Shandra,
que está na cadeia acusada de manipular os sentimentos de um bilionário.
Já os poderosos mestres da transformação, capazes de fazer uma pessoa
virar um animal ou objeto, são raros, e apenas um nasce a cada década –
há anos não se ouve falar de um deles.
É para o pai de Lila, o Sr. Zacharov, chefe da temida
máfia russa, que Philip, irmão mais velho de Cassel, um mestre
corporal, capaz de quebrar pernas com um simples toque, trabalha. O avô
também já fez seus serviços para a família, e isso faz com que os Sharpe
saibam muito bem o que pode acontecer ao adolescente se o gângster
descobrir que ele matou sua única filha. Mas o segredo, aparentemente
muito bem guardado por Philip e Barron, o irmão do meio, mestre da
sorte, volta a rondar Cassel quando ele tem um sonho com uma gata
branca. As imagens do animal provocam uma crise de sonambulismo que
levam o garoto a andar pelos telhados da Escola Preparatória
Wallingford, o exclusivo colégio onde ele estuda e, nas horas vagas,
trabalha como bookmaker, agenciando apostas dos outros alunos.
Assustada, a direção da escola suspende o rapaz por alguns dias, e ele é
forçado a voltar à antiga casa dos Sharpe.
Em um ambiente cheio de recordações da infância,
Cassel começa a questionar seu passado quando a gata branca de seus
sonhos aparece na propriedade. Será que suas lembranças são reais? Será
que o assassinato de Lila realmente aconteceu da forma que lhe contaram?
Em sua busca pela verdade, Cassel descobrirá que nem sempre o sangue
fala mais alto e que a verdadeira lealdade pode ser encontrada em
pessoas como Sam Yo e Daneca Wasserman, seus colegas de escola. Aos
poucos, ele também aprende que não pode fugir do debate sobre a
perseguição aos mestres de magia, um assunto que movimenta a população e
ao qual ele está mais ligado do que jamais poderia imaginar. Nessa
jornada rumo ao crescimento pessoal, Cassel precisa fazer as pazes com
sua história e compreender que, por mais nobres que sejam suas
intenções, jamais poderá fugir do que realmente é e do que faz dele um
dos mais fascinantes protagonistas da ficção para jovens adultos – um
golpista.
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